O corpo humano e sua imagem são objetos
de investigação da medicina, descritos quando submetidos ao exame de fenômenos
classificados entre o normal, anormal e o patológico. Todavia, fenômenos
somatognósicos se mostram desafiadores a estas classificações. Na obra "Le
nom, l’image, l’objet" (2011), do psicólogo e psicanalista Stéphane
Thibierge, nós entramos em contato com o inquietante discurso de pacientes
acometidos por fenômenos somatognósicos, nos quais a noção global do corpo
desafia o exame médico e a própria relação do sujeito com sua autoimagem.
O autor se dedica aos fenômenos
somatognósicos desencadeados após danos no tecido cerebral, a perda de alguma
função do corpo ou a amputação. A obra ilustra diferenças entre o corpo
anatomofisiológico descrito pela literatura médica e um corpo cuja imagem não responde
a esta anatomofisiologia, e ainda, não responde como antes do acometimento
clínico, ou seja, uma imagem estranha para o médico e para o paciente.
Inquietante, sua obra é forjada com
narrativas ricas em detalhes, testemunhas da preocupação de Thibierge com a
singularidade que cada paciente traz aos ouvidos do clínico, em relação a seu
corpo “estranho”. Do ponto de vista clínico, a escuta destas narrativas daria
chances ao paciente de elaborar uma nova imagem corporal de si, diante das
novas condições e limitações.
Podemos considerar, também, a
inquietante a posição de Thibierge em relação aos fenômenos somatognósicos, uma
vez que ele convida o leitor a questionar sobre a dificuldade e a pertinência
de classificar tais fenômenos entre o campo da normalidade, da anormalidade e
da patologia. Uma obra que implica o suposto saber clínico do início ao fim, em
outras palavras, uma excelente leitura para todos os profissionais de saúde.