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Dica de leitura [Francês] : Corpo e fenômenos somatognósicos.



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O corpo humano e sua imagem são objetos de investigação da medicina, descritos quando submetidos ao exame de fenômenos classificados entre o normal, anormal e o patológico. Todavia, fenômenos somatognósicos se mostram desafiadores a estas classificações. Na obra "Le nom, l’image, l’objet" (2011), do psicólogo e psicanalista Stéphane Thibierge, nós entramos em contato com o inquietante discurso de pacientes acometidos por fenômenos somatognósicos, nos quais a noção global do corpo desafia o exame médico e a própria relação do sujeito com sua autoimagem.
O autor se dedica aos fenômenos somatognósicos desencadeados após danos no tecido cerebral, a perda de alguma função do corpo ou a amputação. A obra ilustra diferenças entre o corpo anatomofisiológico descrito pela literatura médica e um corpo cuja imagem não responde a esta anatomofisiologia, e ainda, não responde como antes do acometimento clínico, ou seja, uma imagem estranha para o médico e para o paciente.
Inquietante, sua obra é forjada com narrativas ricas em detalhes, testemunhas da preocupação de Thibierge com a singularidade que cada paciente traz aos ouvidos do clínico, em relação a seu corpo “estranho”. Do ponto de vista clínico, a escuta destas narrativas daria chances ao paciente de elaborar uma nova imagem corporal de si, diante das novas condições e limitações. 
Podemos considerar, também, a inquietante a posição de Thibierge em relação aos fenômenos somatognósicos, uma vez que ele convida o leitor a questionar sobre a dificuldade e a pertinência de classificar tais fenômenos entre o campo da normalidade, da anormalidade e da patologia. Uma obra que implica o suposto saber clínico do início ao fim, em outras palavras, uma excelente leitura para todos os profissionais de saúde.

Filiação, herança e metáfora: um olhar sobre os processos filiatórios no campo da reprodução assistida no Brasil



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Imagem retirada do site http://www.ellasaude.com.br/blog/para-engravidar/o-que-voce-precisa-saber-sobre-reproducao-assistida/
Resumo de minha dissertação de mestrado sobre novas tecnologias reprodutivas:

A presente dissertação levanta questões sobre a filiação parental, atenta às normas de atuação do campo da Reprodução Assistida (R.A) no Brasil. Dedicamos nosso foco ao que o campo oferece de novas tecnologias de Fertilização "in Vitro" (FIV), com a utilização de material doado anonimamente. A escolha é justificada pelo que nele é formalizado por filiação parental.

O estudo do conceito de filiação nos discursos do campo da R.A no Brasil caracteriza nossa pesquisa. Assim, dispomos de entrevistas com profissionais da área, familiares que receberam materiais doados e do principal texto regulador das práticas de R.A no Brasil (nº 2.168/2017). A bibliografia psicanalítica, com obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan, e autores do campo da filosofia e da antropologia, como Hans Jonas e Claude Lévi-Strauss, nos ajudam com reflexões importantes sobre a filiação, a bioética e as estruturas elementares de parentesco.

 A hipótese aponta, na filiação, um impossível de formalizar pela escrita proposicional, com a qual os clínicos guiam suas práticas. Haveria algo inquietante na filiação parental e que escapa ao princípio aristotélico da não-contradição?

As narrativas nos dão notícias de inquietações a respeito da filiação parental e nos guiam durante todo o processo de construção da dissertação.

O caráter pertinente da pesquisa reside na sua inédita proposta (no Brasil) de submeter entrevistas com familiares e profissionais do campo de R.A à luz da literatura psicanalítica.  Através das premissas que a literatura de referência nos fornece sobre a lógica dos processos filiatórios, esperamos contribuir com reflexões sensíveis e sustentar questões paraconsistentes sobre aquilo que se “reproduz” na FIV com materiais doados anonimamente.

Karine Xavier Cavalcante Ferreira- http://teopsic.psicologia.ufrj.br/teses-e-dissertacoes/514

SPCRJ- Rio. Agosto 2019



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Em breve, o Encontro Científico: “A angústia é o afeto que não engana”.
Neste Encontro Científico, Maria Inês Lamy propõe pensarmos alguns pontos das conceituações de Freud e Lacan sobre a angústia, que podem orientar a clínica nos dias de hoje.
Maria Inês Lamy é psicanalista, membro da Escola Brasileira de Psicanálise/AMP.

O encontro ocorrerá no dia 24 de agosto, sábado, das 10h às 12h e será coordenado por Maria Lucia Fradinho.

Gratuito para membros
Estudantes de Graduação: R$15,00
Público Externo: R$30,00.

A inscrição já está aberta e pode ser realizada através do e-mail: secretaria@spcrj.org.br ou dos Tels.: (21) 2512-2265 / 2239-9848.

Escola Lacaniana- Rio. Agosto 2019



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Breves considerações sobre a crítica de Lacan ao “caso Dick”, de Melanie Klein.



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Breves considerações sobre a crítica de Lacan à Melanie Klein e o “caso Dick”

O texto "Análise do Discurso e Análise do Eu" (1954) levanta questões sobre a função do discurso na clínica psicanalítica e o manejo clínico do que alcança os ouvidos do analista.
A sustentação de uma posição que não corresponde ao manejo clínico dos pós-freudianos ficou evidente na segunda parte do texto de Jacques Lacan, no qual ele critica o manejo de Melanie Klein no “caso Dick” (1930), mas considera seus efeitos clínicos.

Segundo Lacan,
Melanie Klein enfia o simbolismo, com a maior brutalidade, no pequeno Dick (...) Ela o joga numa verbalização brutal do mito edípico, quase tão revoltante para nós quanto para qualquer leitor — Você é o trenzinho, você quer foder a sua mãe” (p.83)

A crítica é direcionada ao modo como Klein conduziu seu trabalho no caso do paciente Dick, um paciente diferente de outros que ela costumava atender. Klein sustentou que se tratava de um desenvolvimento egóico prematuro, com a inibição de um segundo momento necessário ao desenvolvimento ulterior do ego, tornando Dick inacessível às influências externas.
A direção do tratamento era alcançar os conteúdos inconscientes para possibilitar o desenvolvimento do ego.
Referente aos sintomas relatados por Klein, hoje em dia, nos parece um caso de autismo, mas a psicanalista tomava a enfermidade de Dick como um caso de esquizofrenia, caracterizada por uma inibição diferente da esquizofrenia "típica" infantil, pois não havia regressão no desenvolvimento.
A aposta de Klein na unidade egóica confere ao seu paciente um ego desenvolvido prematuramente, atos interpretados através de metáforas edípicas, manifestações de angústia, desejos e fantasias, conferindo a Dick um lugar de sujeito ao qual Klein se dirige.
Lacan sustentou que o eu de Dick ainda não estaria sequer formado, não haveria simbolismo entre Dick e o mundo que o rodeava. Sua relação com o mundo parecia real e indiferenciada. Contudo, o autor reconheceu o efeito clínico da interpretação de Klein. Ele destaca que Dick “está lá como se ela não existisse, como se fosse um móvel. Entretanto, ela lhe fala” (p.85) e “é certo que depois dessa intervenção alguma coisa se produz.” (p.84)
Ainda que, para Lacan, a simbolização deste paciente não se dê de forma tão elaborada, tal como Klein apostava, as sessões prosseguiram e operaram melhorias debitadas ao desejo e a aposta da analista, uma aposta de que aquilo que lhe era apresentado era um sujeito e sua angústia, seus desejos e fantasias, num modo particular de estar no mundo.




Bibliografia:
KLEIN, Melanie. Contribuições à psicanálise. 2 ed. São Paulo: Mestre Jou, 1981

LACAN, Jacques. O seminário, livro 1: os escritos técnicos de Freud, 1953-1954/texto estabelecido por Jacques- Alain Miller; [versão brasileira de Betty Milan]. —2.  Ed. – Rio de Janeiro: Zahar, 2009.


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